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  • Foto do escritorWesley Bertolai

. Estradas sem placas / Saber onde se mete / Saudade

.Estradas sem placas

Nascido no interior,
o vulgo de caipira viaja comigo aonde eu for.
Da capital do cimento,
conheci o mar sem peixe e os metrôs sem disponibilidade de assento.
Sem medo,
passei por uma vida única até resolver depois dos 20 trocar o argumento.
Com medo,
abandonei os fantasmas de meu passado e segui na direção do tempo.
Para estudar,
do aconchego dos meus pais que foi trocado pela experiência em não ter um lar.

Muitas coisas eu vivi,
vivenciei e até mesmo de minha própria inocência duvidei mas me arrependi.
Da fome,
provar que ela existe quando te atinge foi pior que emagrecer pela sede que te consome.
Do sono,
que só não vale a pena quando surge em cima de uma moto em movimento e de consolo.
Do frio,
necessidades necessárias que fazem todo o seu ânimo te esquentar como um pavio.
Do calor,
ignorando o que queima a sua pele te fazendo amadurecer sem qualquer suor ou rancor.

Mas que sorte,
poder encontrar nesses percursos que nos façam rir mesmo que contrariarem até a morte.
Mas que grandes emoções,
chegar tão perto de vencer e receber notícias que te afasta novamente da canção.
Mas como é bom,
estar vivo e poder continuar pelas estradas que a cada ano alteram o seu som.
Sem placas,
são essas curvas que aparecem e nos fazem voltar a fazer preces contra pragas.
Ainda é cedo,
e muito cedo mesmo para reclamar de um caminho que ainda está muito longe de terminar.


. Saber onde se mete


Na capital do cimento
a beleza da natureza é tão linda por fora, mas no final, há tantas desgraças acontecendo por dentro.

Minerais e minérios, infinitas possibilidades
centenas de variedades que transformam nossas culturas diárias e nos mantém em sociedade.
Viajando pelas estradas, percebo a força dos relevos
grandes paisagens que chocam qualquer espírito ainda detento de si mesmo.

Como é tão ruim pensar, que um dia,
já teve mais vida na Serra do Mar.

Como é ruim saber, que um dia,
nuvens de garoa fina, já foram simplesmente neblina.

Se em Cubatão, o progresso ganhou,
atrás de suas usinas, nem mesmo um único guará jamais voltou.

Lá em Pinheiros, apenas das janelas de arranha-céus,
é possível perceber o verde que falta no outro extremo daquele anel.

Não importa aonde vá, a cultura local te recebe e te ensina
você começa nas gírias, na música e na rima. Sempre é nas margens que termina.

Afinal, sem conhecer as margens,
jamais teria saído de minha cidade, e sobrevivido em selvas de concreto sem um único conhecimento da tal malandragem.


. Saudade

Quando me perguntaram o que ia fazer em Santos,
eu respondia estudar.

Quando me perguntavam o que fazia em São Paulo,
eu dizia namorar.

Quando me perguntam até hoje, se pra Votorantim eu quero voltar,
digo que não, mas talvez quando estiver velhinho,

provavelmente a saudade vai apertar.

Ambas escritas em 2023.


Fotografia do autor, São Paulo, 2023.

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