.P/ os motócas
Dia e noite, noite e dia
Debaixo do sol, percebemos diversas rotinas
Só a nossa, impossível de se controlar
Num instante, bairro bela vista, no outro, cemitério araçá.
Na consolação, subimos até o espigão
Vários baús na nossa frente, um deles já avisa
"não é pizza, é ração!”
Quando menores, a rua foi a nossa escola
Agora ela virou trabalho, conhecemos toda a escória
Pra não ficar pra trás, os express tão sempre na correria
Para os fixos são várias as paradas, o motor não pode dar avaria
Se for dos apps, já sabe, espera o sinal e corre atrás da boa do dia.
Para uns tem dinâmica. Para outros promoção
Independente do seu nome, na chuva vejo vários à milhão.
Na Rebouças, ciclofaixa se torna uma opção
E falando na garoa, várias derrapadas criam confusão.
Uns vem da norte,
esses sabem que o corredor da Cruzeiro do Sul com a Marginal é uma questão de sorte.
Uns vem da Leste,
Itaquera, Aricanduva, São Miguel ou Anhaia Mello, sempre dá um sinal de estresse.
Uns vem da Oeste,
de tantas curvas e descidas, até chegar na Sumaré, para os freios, um verdadeiro teste.
Uns vem da Sul,
extensas avenidas sem precisar raspar em retrovisor, viva a faixa azul.
De qualquer forma.
Não nascemos espertos, mas saímos de becos e vielas
no corre pelas avenidas, alamedas e passarelas
Aqui ninguém fala em ostentação
pois a nossa classe, não é a que produz o pão
e sim, aquela que o leva para sua casa, prédio ou portão
Se somos reconhecidos por tal merecimento?
Essa é a questão.
Mas dizem que tá de boa, que nada mais vai mal
Pois é, será que perguntaram pra quem todo dia tem que pegar a Radial?
Horário de pico. Esse já não tem mais pique
Hepatite, gastrite ou sinusite
Por favor doutor, me consulta aí. Não tenho mais fome ou é falta de apetite?
É que não importa a idade, no corredor são todos a milhão!
Os mais velhos te ensinam o melhor caminho pra chegar
É melhor prestar atenção!
Pra que arriscar a vida, ficar buzinando e passar no sinal vermelho
É uma pena! Pra quem olha feio, realmente nunca entende o desespero.
A maioria canta, e a moto até balança
Pois é, mas pro grau ser arte,
ainda falta muito nessa sociedade.
No tempo de espera, tem vários que abandona, por isso os olhos feios no restaurante
só aumentam nossa fama
Enfim,
Nos jardins, o jantar é a luz de vela
Mas pra nóis, marmita e sombra fresca, com motores à capela.
Dia e noite, noite e dia
em casa, alguém nos abraçou.
Nosso cotidiano, correria
Da água que nóis bebe, até o passarinho recusou
Mas pergunta pros clientes,
Quantas marmitas já esfriou?
Escrito em 2023.
Ambas as fotos são do autor, São Paulo, 2023.
Notas:
Salve a todos os motócas, mas também todos os entregadores no geral, Salve aos bikes que corre com nóis no dia a dia.
Falo de SP, onde eu trampo, mas sem dúvidas dedico pra GERAL. Salve!